O Boiadeiro e a Gaita Encantada (completo)

11 08 2017

Oi, gente, um forte abraço. O nosso último texto foi “Debaixo do Pé de Ingá”. Veja a nossa nova mensagem.

            Você já ouviu falar da tropa de boiadeiros mais famosa da região do Texas? Veja o elenco que formava essa tropa. Estrelando Sr Scott e seus três filhos, Marlom, Antony e o filho caçula Silver. Os outros três peões eram filhos do irmão de Scott, eram eles Nero, Steven e Robert. Silver era o boiadeiro mais novo da tropa, esse moço com apenas dezoito anos era o melhor boiadeiro da região do Texas, sabia, como ninguém, conduzir uma boiada, o seu berrante parecia falar com os bois. Mas não era só o berrante que ele assoprava com perfeição – quando ele assoprava sua gaita no sertão, até a natureza parecia que lhe aplaudia, sua gaita parecia ser encantada.

            Essa era a tropa do senhor Scott. Sete homens e um só destino: conduzir boiada no sertão do Texas, percorrer por muitos Quilômetros por entre as matas na estrada boiadeira, que também era conhecida como Avenida dos Bois. O destino da boiada era sempre o mesmo: a Fazenda América.

            Nove de abril, oito horas da manhã, todos os peões já estão no lombo do cavalo. Silver toca o berrante e a boiada sai a passos lentos rumo à Fazenda América. As horas passam, já são onze horas e dez minutos, hora do descanso, o gado sacia a sede no rio e sai para pastar, os peões vão para o rancho dos boiadeiros para descansar e almoçar. Enquanto os boiadeiros desfolham o baralho em uma rodada de poker, o jovem Silver desce até a beira do rio, senta embaixo de um arvoredo e, com a alma, toca sua gaita. Duas horas de descanso e a boiada é novamente colocada no estradão. Seis horas e dez minutos, missão cumprida. Essa era a rotina da família Scott na região do Texas.

            Dezessete de abril, são sete quarenta e três da manhã, e a boiada já está a caminho em lentos passos na estrada boiadeira, rumo à Fazenda América. O sol já está alto, a boiada vai para a pastagem e os boiadeiros vão para a pousada comer e descansar por duas horas, como de costume, os peões desfolham o baralho, menos Silver, pois ele está na beira do rio, bem perto do bebedouro do gado, no lugar de sempre, tocando sua gaita. Nem imagina que está sendo ouvido por alguém. E esse alguém está se emocionando com suas lindas canções. O jovem boiadeiro bate a gaita em sua mão, passa nela o lenço e quando ele vai colocá-la no bolso ouve uma voz:

            – Não, moço, não guarde a gaita, toque mais uma canção pra eu ouvir.

            Silver fica surpreso, nunca antes tinha encontrado alguém por ali, como a voz parecia vir de baixo, ele se inclina, olha em direção as águas e avista, sentada sobre uma pedra uma belíssima moça, com uma bacia de roupas ao lado.

            Silver desce o barranco, e caminha em direção à moça.

            – Você saiu de uma toca ou caiu do céu, menina?

            Ela ri, e responde:

            – Nenhum dos dois, eu venho é lá do meu Ranchinho de Sapé.

            Os dois sorriem.

            – E onde fica esse seu ranchinho de sapé?

            – Não fica longe daqui, alguns minutos pela estrada em direção à velha ponte, alguns passos depois dela e através do primeiro carreador, um pouco à esquerda, um pouco mais em frente.. e mais adiante, atrás do morro, é lá que fica minha toca.

            Risos acompanhados de um flerte.

            – E você, cancioneiro? De onde vem?

            – Eu moro há alguns quilômetros daqui, minha toca é bem longe, moça, mas não sou cancioneiro, meu trabalho é levar boiada.

            – Ora, pois, com uma gaita na mão faz tão belas melodias, se não for bom em mostrar caminho aos bois, pode até mudar de profissão.

            A moça ri e Silver fica sem jeito. Olhares se cruzam com tímidos sorrisos.

            – Sempre passamos por aqui, mas essa é a primeira vez que lhe vejo.

            – Moro por aqui há apenas 12 dias.

            – E qual vossa graça?

            – Eu me chamo Cassia, prazer em conhecê-lo.

            – Meu nome é Silver, o prazer é meu.

            Continuam conversando e a moça pergunta:

            – Diga-me uma coisa, porque por aqui passa tanta boiada?

            – O nome já diz tudo, estrada boiadeira, ou Avenida dos bois, esse é o único caminho que leva diretamente à fazenda América, é lá onde os bois são embarcados para o livre comércio na região do Texas, e como você pode ver, a estrada é muito montanhosa e seria impossível transportá-los em caminhões. Já está quase na hora de seguirmos caminho, mas como parece que você realmente gostou, vou atender ao seu pedido, e tocar mais uma música pra você. Essa música é de minha autoria, creio que ela é uma inspiração divina, só eu consigo tocá-la.

            O boiadeiro então senta ao lado da moça naquela enorme pedra, e ali às sombras do arvoredo, pelos lábios ele desliza suavemente sua gaita dourada deixando escapar das mãos uma melodia tão serena que até os pássaros pareciam parar de cantar para ouvir.

            Cássia está encantada, porém, antes mesmo de Silver terminar sua canção ouve-se o tocar do berrante – é Marlom dando o sinal de que estão partindo.

            – É hora de partir, este sinal é meu irmão chamando.

            A moça se entristece e pergunta à Silver:

            – Quando o verei novamente?

            – Toda vez que eu passar por aqui eu venho nesse lugar e toco o berrante por três vezes seguidas, esse será o sinal de que eu estou lhe esperando.

            – Sim, eu virei te encontrar, em dez ou quinze minutos eu estarei aqui.

            Os dois se despedem com o coração apertado. Foi a primeira sensação de amor que a moça e o jovem boiadeiro sentiram em suas vidas.

            O tropeiro não tirava mais a moça do pensamento, a jovem também só pensava no boiadeiro.

Dias depois, vinte e dois de abril, Silver está à sombra do arvoredo, tira o berrante amarrado às costas e o toca por três vezes.

De um ranchinho de sapé perto dali, Cássia ouve o soar do berrante e vai ao encontro do rapaz, e em poucos minutos já estavam lado a lado. Esse encontro foi acontecendo por dezenas de vezes e foi ficando cada vez mais emocionante. E assim nasceu um grande amor em dois corações em pleno sertão.

O tempo parecia voar, já era abril de novo, um ano se passou, quantos momentos felizes os dois viviam nas campinas verdejantes e floridas ali naquele sertão. A natureza testemunhava aquele amor tão bonito que nasceu como um toque de mágica.

Mais alguns dias se vão e novamente um novo encontro, lá estão os dois na sombra do arvoredo, às margens do rio.

– Cássia, já faz mais de um ano que a gente está se amando e eu nunca lhe dei um presente, na próxima vez que a gente se encontrar eu vou lhe trazer alguns presentes.

A sertanejinha da um lindo sorriso, os dois se abraçam e se beijam.

– Nossa, que presente será que eu vou ganhar do melhor boiadeiro do Texas?

Risos e muitas felicidades se estampam no rosto de ambos. Nesse momento, Steven toca o berrante e os dois se despedem.

O vai e vem dos boiadeiros não para. A moça está lá no seu ranchinho varrendo o terreiro conversando com sua mãe e escuta o berrante por três vezes seguidas.

– Mãe, é ele, hoje ele vai me dar um presente.

– Vai lá minha filha, mas juízo hein.

– Fique tranquila, mãezinha, eu jamais irei decepcioná-la.

Cassia chega e Silver está à sua espera com uma mala cor de vinho na sua mão, então ele abre a mala e tira uma camisa estampada, uma calça de boiadeira, um par de botas, um cinturão dourado, um par de esporas e um lenço, um gibão e, por último, ele tira um chapéu e coloca em sua cabeça e lhe dirige essas palavras:

– Cassia, essas são as vestimentas de um boiadeiro, eu quero fazer de você uma boiadeira de qualidade para juntos conduzirmos boiada por esse sertão a fora enquanto vivermos.

Depois ele tira do bolso uma aliança e coloca em sua mão.

– E essas flores eu colhi de um jardim, o jardim da natureza, são lírios do campo, eles irão enfeitar o seu ranchinho de sapé.

– Cássia eu quero me casar com você.

Os dois se abraçam e se beijam, e depois ela encosta a cabeça em seu peito e ele acaricia seus lindos cabelos negros e longos.

– Cassia, primeiro eu vou te ensinar como montar em um cavalo: coloque o pé no estribo do arreio, segure com a mão na alça do arreio ou na crina do cavalo e jogue o corpo pra cima e cruze a perna na lomba do animal, e em seguida segure firme as rédeas para acalmar o cavalo, se ele se assustar.

E depois ele a ensinou a andar a cavalo, a trotear com o animal, a marchar, a galopar, por último a ensinou a tocar um berrante com perfeição. A sertanejinha se tornou uma boiadeira de qualidade, sabia muito bem como conduzir uma boiada. O “casal vinte” do sertão está se amando loucamente.

            Mais alguns dias se passam, a tropa do Sr Scott está de novo na estrada, já são dez horas e quarenta minutos, é a última descida naquela estrada montanhosa para o descanso, Silver conta os segundos para chegar, tomar um banho, comer e descer à sombra do arvoredo, tocar o berrante e esperar a princesinha do sertão vir sentar-se a seu lado, e ali passar os momentos mais felizes da sua vida. O jovem boiadeiro esta eufórico para o encontro, mas ele nem imagina o que lhe espera, a sua alegria se transformaria em tristeza. Uma espada transpassaria sua alma tamanha seria sua dor, sua amargura que lhe desejaria a morte.

            Silver toca o berrante por três vezes e espera por vinte minutos e a raposinha do sertão não aparece. Silver está com o coração apertado, seus olhos estão em lágrimas, ele então pendura com muita tristeza o berrante em um galho da árvore e segue até o ranchinho da sua amada. Mesmo ainda estando à distância já percebe algo diferente.

            O cachorro não latiu, não latiu porque não estava mais ali, ele não vê as galinhas andando no terreiro, vê as janelinhas fechadas, a pequena porta também está fechada, chega a passos bem lentos e um tanto assustado, olha pela fresta da porta, a casa está vazia, não há mais ninguém ali, o ranchinho de sapé, a toca da raposinha, está tudo abandonado.

            Silver, um moço forte, que domava cavalo bravo, pegava boi à unha, nesse momento vê o mundo desabar em cima de sua cabeça, o boiadeiro sentiu o baque, fraquejou, caiu de joelhos, chorou, gritou em voz alta, de longe se ouvia o eco de sua voz entre a mata. Diante da força do amor ele fraquejou, ficou em pedaços. Foi ali às margens do rio, pegou seu berrante no galho da árvore e em prantos seguiu até o rancho dos boiadeiros, sentou-se ao lado do seu cavalo que estava amarrado embaixo de um belo pé de cedro, encostou no imenso tronco da árvore, colocou a mão em seu rosto e chorou amargamente, e o silêncio foram suas palavras. Todos os boiadeiros também ficaram em silêncio, ninguém teve a coragem de lhe dirigir uma só palavra, todos o amavam, hoje a tropa seguirá com a boiada com seis peões para a fazenda América, era ordem do Sr Scott. Silver vai descansar e esperar o regresso dos tropeiros. Nero toca o berrante depois de alguns minutos e a boiada segue novamente.

            Seis meses já se passaram, lá na cidade de Dallas está Cássia e sua família, nesse momento Cassia conversa com sua mãe.

            – Mãe, está vendo essa mala, dentro dela está toda vestimenta de uma boiadeira, foi um presente que ganhei de Silver, quero que a senhora guarde por toda vida essa mala, será por lembrança do único homem que amei e que sempre vou amar enquanto viver. Eu tomei uma decisão: vou para um convento, vou me tornar uma freira. E assim ela fez, tornou-se uma freira na cidade de Dallas.

            A jornada continua lá no sertão, Silver está com uma profunda depressão, está doente, mas não quer abandonar a tropa de peões, e continua a conduzir boiada junto com os tropeiros. São cinco horas, a boiada está a duzentos metros da fazenda América para ser entregue, o tempo muda de uma forma súbita, o astro rei se esconde por detrás de uma negra nuvem. O dia escurece, de repente raios, trovões e relâmpagos riscam e estrondam o céu. Nesse momento a boiada estoura. Marlon, Antony e Nero estavam atrás dos bois e não sofreram. Steven e Scott iam pelas laterais e tiveram algumas machucaduras, nada grave. Robert e Silver iam à frente, tocando o berrante. Robert consegue escapar, mas Silver foi pisoteado por vários bois e teve algumas quebraduras, foi socorrido e levado até a casa do fazendeiro, o Sr Elton, que imediatamente o leva para a cidade de Denver. Seu estado era grave, e o boiadeiro ficará internado por tempo indeterminado.

Dois meses e meio já se passaram, o vai e vem da tropa não para, só que agora com seis boiadeiros. Lá no hospital Silver está se recuperando dos machucados, mas a depressão o consume lentamente. Era domingo, nove horas da manhã, e o boiadeiro chama o Dr. E lhe diz essas palavras.

– Doutor, eu gostaria de um pouquinho da sua atenção. Eu vou lhe contar a minha história de amor. Era dezessete de abril, onze horas e vinte minutos eu estava tocando a minha gaita na beira do rio, à sombra de um arvoredo, nem imaginava que eu estava sendo ouvido por alguém, foi um anjo que caiu do céu, uma linda moça, estava ali sentada em cima de uma enorme pedra, e ao lado uma bacia de roupa. Quando fui guardar minha gaita ela me disse: “Não guarde a gaita, não, moço, toque mais uma canção que eu quero ouvir, sua gaita me encanta”. Aproximei-me e assim eu conheci o grande amor da minha vida, Doutor, eu a ensinei a ser uma boiadeira, éramos um casal perfeito, íamos nos casar quando do nada ela desapareceu, ninguém sabe o seu paradeiro. Esse é o motivo da minha depressão, Doutor. Eu gostaria de ter permissão da diretoria para tocar a minha gaita lá no pátio do Hospital. Eu sei que o som da gaita vai aliviar a minha dor.

O Doutor fica comovido com a história do boiadeiro e lhe dirige essas palavras:

– Vou conversar com a diretoria e amanhã te dou um parecer.

No dia seguinte…

– Você pode tocar sua gaita lá no pátio na hora da visita, sim, e que Deus te abençoe que a gaita alivie a sua dor.

– Sim, obrigado, Doutor prometo que não vou atrapalhar.

E assim foi por várias semanas o boiadeiro tocava sua gaita, e os doentes e os visitantes se maravilhavam com o som da gaita dourada que encantava as pessoas.

Lá na cidade de Dallas, no convento, a irmã Joana conversa com a irmã Cassia.

“Cassia, já faz bastante tempo que você está aqui no convento, eu agora vou te inserir no grupo das freiras que fazem visitas aos Hospitais de Dallas e na cidade de Denver, pois acho que você é uma pessoa preparada para nos ajudar nessa missão. Amanhã nós iremos pra Denver, e você irá conosco.”

No dia seguinte…

Na hora da visita, lá estão as freiras de quarto em quarto dando sermões e algumas palavras de consolo para os enfermos. Cassia sai pelo corredor e se depara com algo que a emociona: ouve o som de uma gaita no pátio do Hospital, vai até a janela de um quarto, e lá está um moço tocando sua gaita. Ele está de costas para ela, e ela nem imagina que Silver está ali. Vai até o banheiro e chora amargamente, se lembra do boiadeiro que ela ainda ama.

Mais algumas visitas e sempre a mesma cena: lá no pátio está o cancioneiro da gaita que encanta as pessoas. Mas a freira começa a ficar desconfiada, as músicas que ele toca são semelhantes, parecem ser iguais a que o boiadeiro tocava no sertão, apenas, com uma melodia um pouco mais triste. O horário da visita está terminando, Cassia vai à janela do quarto, puxa uma banqueta, senta e se debruça na janela para ouvir o cancioneiro tocar sua gaita. Ah, quantas saudades o som da gaita lhe trás lá do sertão! E nesse momento ela só não cai porque está sentada e debruçada na janela. Suas pernas ficam bambas, o moço está tocando aquela canção que Silver dizia ser a sua inspiração divina e que só ele conseguia tocar. Chora novamente, ela está bem perto do homem que ela ama. Chora como uma criança não consegue conter a emoção, aquela canção confirma, ela reencontrou o grande amor da sua vida.

Mas para que não fique nenhuma dúvida, ela conversa com o médico, de um jeito bem discreto para que o Doutor não desconfie de nada. Essas são suas palavras:

– Doutor, quem é aquele moço que todo dia toca gaita no pátio na hora da visita?

– Aquele moço é Silver, o melhor boiadeiro da região do Texas, ele foi pisoteado pelos animais, mas suas machucaduras já estão sarando, ele toca aquela gaita todos os dias para aliviar sua dor, saudades que ele tem por um alguém que ele ama, mas que, subitamente, do nada, saiu da sua vida. Esse é o motivo da sua depressão, mas me disse que o dia em que ele sair daqui vai virar o Texas de pontas cabeça para reencontrar a sua boiadeira para então se casar com ela.

– Será que ele a encontra Doutor?

– Eu acho muito difícil, o Texas é grande pra que isso aconteça, mas nada é impossível, madre Cassia.

– Eu também acho.

Cassia vai até o banheiro e chora novamente, mas não tem nenhuma duvida, aquele é Silver. E fica sabendo que ele está à sua espera.

Nas próximas visitas que ela faz ao Hospital, só o observa de longe, não quer que ele a veja vestida de freira. Tem um porém: ela perdeu a alegria de viver, e a sua tristeza lá no convento foi percebida por todas as irmãs. Madre Joana chama Cassia em particular e lhe dirige essas palavras:

– Irmã Cassia, eu vejo em você uma enorme tristeza, ela está estampada no seu rosto, gostaria de saber o que esta acontecendo com você.

A irmã Cassia não consegue conter a emoção e chora amargamente, e depois comenta.

– Madre Joana, eu morava no sertão com minha família, minha mãe, meu pai – que tem mal de Alzheimer – e minha irmã, ainda menina. Um dia eu desci para lavar roupa na beira do rio, ainda me lembro, era dezessete de abril, eram onze horas quando eu ouvi um cancioneiro tocando uma gaita, e como eram bonitas suas canções, não resisti, desci pra perto do moço e me sentei em cima de uma pedra e ali fiquei encantada com a beleza que era a melodia que saia daquela gaita. Quando ele foi guardar a gaita, eu pedi que ele tocasse mais uma canção, então ele tocou para mim uma linda música e depois me disse que só ele conseguia tocar aquela canção, e que ela era uma inspiração divina.

– Assim eu conheci o boiadeiro mais famoso do Texas. Esse homem se tornou o único e grande amor da minha vida, me ensinou a ser uma boiadeira, nós éramos almas gêmeas, eu morava em um ranchinho de sapé, mas eu e minha família éramos felizes, foi quando do nada surge o meu irmão, um homem maldoso que morava na época em Carolina do Sul, mas à força nos levou pra cidade de Dallas. Hoje o meu irmão mora na eternidade, minha mãe e minha irmã vivem da aposentadoria do meu pai.

– Madre Joana, o boiadeiro que eu estou lhe falando é aquele moço que toca gaita todos os dias lá no pátio do Hospital.

A freira se comoveu com a história da irmã Cassia e faz a ela uma pergunta:

– Então é esse o motivo da sua tristeza, reencontrou o seu antigo amor.

– Sim, irmã, eu quero deixar o convento e me casar com ele, eu o amo loucamente. Madre Joana, quantos personagens temos na Bíblia que se amaram com a força da sua alma. Um dia Sansão amou Dalila, Rebeca Amou Isaque, Jacó amou Raquel, Abraão amou Sara. Não está escrito na bíblia, mas é certeza que um dia Adão e Eva também se amaram no paraíso do Éden. Quantas freiras temos aqui no convento que um dia também amaram com toda sua alma e não foram correspondidas, outras amaram e foram traídas e fizeram um juramento de nunca mais amar, e agora estão aqui nesse confinamento mas não conseguem esquecer que um dia sentiram a doçura de amar alguém.

– Madre Joana, eu não esqueço os momentos felizes que vivi com esse boiadeiro lá no sertão, correndo à margem do rio, sentados à sombra de uma árvore, ah, como era gostoso andar na garupa do seu cavalo, tocar boiada com ele! Madre eu quero voltar a ser uma boiadeira junto com ele.

A irmã se comove com a história de Cassia e lhe dirige essas palavras:

– Não vejo nenhum pecado nisso, você está livre para se casar com o seu boiadeiro, Cassia.

As duas se abraçam, e depois Cassia abraça todas as irmãs do convento e chora no ombro de todas elas. Houve muita comoção na despedida de Cassia.

A moça chega em sua casa e diz para sua mãe:

– Mãe, pega aquela mala e tira dela toda aquela vestimenta que eu ganhei do Silver, arrume também nossas coisas, vou voltar pro sertão pra ser boiadeira junto com o Silver, a senhora e minha irmãzinha vão vir comigo.

Então ela vai até o Hospital e fica sabendo que o boiadeiro vai ter alta no dia seguinte. No dia seguinte, lá está Silver no pátio, tocando sua gaita pela última vez naquele Hospital. O pátio está repleto de pessoas ouvindo a gaita encantada do rapaz. Cassia está a dez metros atrás dele vestida de boiadeira, e eis que quando ele vai guardar a sua gaita, a moça diz:

– Não guarde a gaita, não, moço, toque mais uma canção, que eu quero ouvir.

O boiadeiro quase desmaia, vira o corpo lentamente e se depara com a sertanejinha do seu coração. Silver não contém as lágrimas e grita em alta voz.

– Cássia. – e ela grita:

– Silver.

Os dois se abraçam, se beijam e choram como duas crianças. Os presentes ali aplaudem, também comovidos, e nesse momento chega o Doutor, para quem Silver então dirige essas palavras:

– Doutor, o senhor curou todas as machucaduras de meu corpo, mas só ela conseguiu curar a profunda depressão de minha alma.

– Uma boiadeira linda como essa cura qualquer depressão, rapaz, vocês estão de parabéns.

Silver e o médico se abraçam, e depois o Doutor abraça Cassia e lhes deseja felicidades. Em seguida os dois saem abraçados e vão para casa da moça.

Vinte dias depois, os dois se casam, a festa foi na fazenda América, com rojões, um belo churrasco e chope à vontade, tudo patrocinado pelo fazendeiro o Sr. Elton. Dezenas de boiadeiros se fizeram presentes. Hoje a mãe e a irmã de Cassia moram juntas com Cassia e Silver até a nova casa ficar pronta. A tropa do Sr. Scott tem agora oito integrantes: sete boiadeiros e uma boiadeira.

 

E assim, nobres leitores, chegamos ao fim de mais uma linda e dramática história de amor.


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